domingo, 1 de setembro de 2024

São João


Eis que a estação vai se acabando e, salvo por uma friagem ou outra, não dá pra dizer que neste ano teve inverno no Rio de Janeiro. Não que o frio me faça falta, muito pelo contrário, mas acho tudo isso bem esquisito. 
Falta mesmo eu senti  foi do São João. Esse ano eu não tive São João porque em junho eu estava em qualquer outro lugar exceto no Nordeste. E São João é no Nordeste. 
Seja no grandioso São João de Campina Grande. Onde uma multidão se reúne no parque do povo nos primeiros raios de luar do primeiro dia de junho e só arreda pé quando o orvalho frio da Borborema cintila o primeiro clarão de julho. Um mês inteiro numa única noite, esse milagre acontece todo ano na Paraíba sem que o restante do país se dê conta. 
Seja nas cidadezinhas pequenas, tal qual a singela Bom Jesus dos Pobres, lá no ponto mais recôncavo da Bahia de todos os Santos. Onde passei uma vez o São João na casa do amigo Celestino. Lembro de quando gente foi na praia da Ponta de Monte Cristo, que fica inacessível por terra na maré cheia. E por isso lá ficamos ilhados por uma tarde inteira. E sobrevivemos a base pastel de siri catado e pequenas doses de pitu. Iguarias vendidas na única barraca, a do seu Libório, que não aceita cartão, mas vende fiado. 
- Ah, mas aqui também tem festa junina.
Não, caro amigo sudestino. São João é uma coisa, festa junina é outra bem diferente. Meu parco talento para escrita não me capacita a lhe fazer entender o que é o São João. Talvez o Xico Sá consiga. Não somente por ser um cronista duas ordens de grandeza mas talentoso que eu, mas por ser cearense. Cearense é foda. 
Então eu vou tentar te explicar pela antítese. O anti-São João é uma agência bancária. Numa agência bancária tem ar condicionado, espaço e lugar pra sentar, café gelado, água de garrafão e gente querendo vender solução para os problemas de gente que está ali contra a própria vontade. 
O São João é o oposto disso. É quente embora seja inverno, você pode até colocar lá uns banco mas nem os véio querem ficar sentados, cerveja quente, água só daquela. Gente que só a muléstia que faz questão de estar ali porque celebrar seja afinal o principal sentido da vida. Ah e música, muita música. Música brasileira. Que é a melhor que existe. 

Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.

Um comentário:

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