quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Ouro Preto

A c o r d a

pãodequeijo    pãodequeijo    pãodequeijo

anda anda anda
                 sobe
          sobe
   sobe


      respira
      montanha
      passarinho


 desce
         desce
                 desce
anda anda anda
                   sobe
             sobe
       sobe
      desce
              desce
                      desce
                                                             


história


sobe
       sobe
              sobe
anda anda anda
desce
        desce
                desce


Igreja


sobe
       sobe
              sobe
anda anda anda
desce
        desce
                desce


Huuuuummmmmm almoço


cachaça torresmo
cachaça torresmo
cachaça torresmo


conversa

cachaça torresmo
cachaça torresmo
cachaça torresmo


conversa boooooooooa

cachaça torresmo
cachaça torresmo
cachaça torresmo


sobe
       sobe
              sobe
anda anda anda
desce
        desce
                desce


cachaça torresmo
cachaça torresmo
cachaça torresmo

oooo...

cachaça torresmo
cachaça torresmo
cachaça torresmo


sobe
       sobe
              sobe
anda anda anda
desce
        desce
                desce


cachaça torresmo
cachaça torresmo
cachaça torresmo

coveresta

cacharesmo torraschaça
troserschaça cacharesmo
torcachaça resmerejo


Hic! Controvesta...

cacharesmo torraschaça
troserschaça cacharesmo
torcachaça resmerejo



So-so-so... Eita! Sobe
                  So-so-so... Eita! Sobe
                                    So-so-so... Eita! Sobe

                        cambalea cambalea cambalea

Deeeeeeeesce CUIDADO!
                                          Deeeeeeeesce CUIDADO!
                                                                    Deeeeeeeesce CUIDADO!


Ufa!

Dorrrrme

A c o r d a

pãodequeijo    pãodequeijo    pãodequeijo

anda anda anda
                 sobe
          sobe
   sobe
...



Licença Creative Commons
 Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Tiziu



- Tiziu

Não pula.

- Tiziu

Não pula.

- Tiziu

Não pula.

Percebeu que havia algo de errado. Por maior que fosse o seu esforço ele não conseguia saltar. E cantar assim parado no galho o deixava profundamente entristecido. Para os pretos o canto e a dança são faces de uma mesma moeda. Cantar é o que dá significado ao dançar. E dançar confere existência ao cantar.

Era um dia escaldante no verão de Ipitangas, distrito de Saquarema, região dos lagos do Rio de Janeiro. E cumprir assim, pela metade, o seu ofício fora por demais penoso.  Tão logo pôde foi procurar Dona Rita, costureira de mão cheia, mãe de todos, era a única conhecida que poderia resolver o seu problema. Assobiou em frente ao portão – Tiziu – e foi recebido pela filha de Dona Rita, uma negra esguia de olhar altivo e postura de bailarina:

- Bom dia seu Tiziu? A que devo sua visita?

- Bom dia moça, estou precisado da ajuda da senhora sua mãe. Minhas molas se quebraram, não consigo mais saltar.

- Que horror seu Tiziu! O pior é que mamãe acabou de sair. Ela desceu para o Rio hoje. Talvez volte ao fim do dia ou então só amanhã.

- Minha Nossa Senhora! E agora?

- Acalma-se seu Tiziu. Ela ficou de passar antes em Vilatur, na casa de seu Mota, se fores bem rápido...

Nem esperou terminar a frase - obrigado dona moça!

Voou o mais rápido possível por cima da restinga, cortou o vento, passou ligeiro pelas nuvens, quase se chocou com uma garça que voava despretensiosamente.

- Olha por onde anda mal-educado! Vai salvar o pai da forca?

- Me perdoe dona Garça. É caso de urgência!

Chegou ofegante à casa de seu Mota. Um senhor de meia idade, roupas coloridas e longas madeixas. O andar pendular e os gestos alongados denunciavam que os dias de surf tinham chegado ao fim. Restara o estilo de vida.

- Bom dia seu Tiziu! O que houve? Estas esbaforido.

- Minhas molas se quebraram seu Mota. Só Dona Rita é capaz de ajudar-me.

- Pois ela veio tomar um chá comigo pela manhã e já se foi. Ao que me parece para o Rio. Mas se achegue, ainda tenho bolo.

- Não posso seu Mota, amanhã tenho que trabalhar, preciso das molas.

- Mas o bolo é de massa integral! Entra logo amigo, o senhor já é de casa.

- Mas seu Mota...

- Vamos fazer o seguinte, tomamos chá com bolo e então te passo o endereço do seu Walter.  Ele mora em Itaúna e conserta de tudo, com certeza vai lhe ajudar.

- Prefiro café – sorriu.

A conversa descontraída acalmou o pássaro. Afinal a vida não é só trabalho. Um café, um bolo, uma mesa na varanda, um par de amigos e o vento da praia são antídotos à falsa sensação de brevidade do tempo. Um convite à realidade. Ao fim da refeição o tiziu se despediu e voou despretensiosamente observando a textura da relva. Planou sobre o ar para descansar, brincou com uma nuvem rechonchuda acenou para o amigo Sabiá.

- Boas tardes seu Tiziu!

Olhou no relógio passara quinze minutos do meio dia.

- Boas tarde seu Sabiá. Conheces a casa de seu Walter?

- É aquela na esquina caro amigo, passar bem.

- Passar Bem.

Seu Walter não estava. Sua esposa explicou que ele fora resolver a falta d’agua do bairro e só voltaria ao fim da missão. O Tiziu agradeceu, rodopiou sem rumo no ar e resolveu tomar um açaí na praia pra refrescar a memória. Tomou banho de mar, enamorou-se com uma turista de pele branca que usava um biquíni vermelho de cintura alta, estilo bossa nova. Sentou com ela ao fim da tarde na Praia da Vila. Contaram todos os tons de dourado que puderam até o sol se apagar no mar. Despediram-se sob as luzes da igreja de Nossa Senhora de Nazareth.

O tiziu até pensou em voltar na casa de Seu Walter, mas achou que não caía bem perturbar, ao avançado da hora, alguém que trabalhara o dia inteiro. Voltou pra Ipitangas com cautela e coragem. Temia as investidas das corujas e os demais perigos da noite, porém tinha plena confiança em sua capacidade de voo e em sua percepção.

Sobrevoou a casa de Dona Rita, as luzes estavam acesas, resolveu tentar:

- Tiziu – assobiou.

- Meu amigo Tiziu! Que bom que veio! Minha filha contou-me que estivestes a minha procura pela manhã.

- Pois é Dona Rita, fiquei preocupado da Senhora não voltar hoje.

- E eu lá ia deixar um amigo na mão. Entre, deixe-me ver essas molas... Hum... Estão gastas... Tenho cá um par novinho... Mas amigo Tiziu... Suas penas estão cheias de sal. Fostes à praia?

O Tiziu confirmou encabulado.

- Pois então vá ao toalete e aproveite pra tomar um banho. Passe-me as botas pela porta que num instante lhe costuro molas novas.

E assim foi feito, o Tiziu tomou seu banho, pegou de volta as botas pela fresta na porta, experimentou e já pode sentir o amortecimento novinho em folha. Agradeceu Dona Rita e ia se despedindo quando foi interpelado:

- Não se vá seu Tiziu, preciso de uma ajuda sua em outra questão.

Apontou a garrafa de água ardente.

- Mas Dona Rita, essa passarinho não bebe.

Riram longa e despretensiosamente. Entraram pela madrugada a beber e a conversar. Dona Rita contou a história de como, ainda aos oito anos, aprendera o seu ofício. O Tiziu ensinou à amiga dois novos passos de dança. Despediram-se quase ao raiar do dia.

Mal pestanejou em seu ninho e já era hora do expediente do pássaro. Voou feliz da vida para seu galho e:

- Tiziu.

Pulou tão alto que quase errou o galho na aterrisagem.

- Essas molas novas estão uma beleza.

- Tiziu!

Pula.

- Tiziu!

Pula.

- Tiziu!!

Pula.

- Tiziu!!!



Licença Creative Commons
 Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.

Meu primo Célio

E tem esse meu primo Célio, que na intimidade a gente chama de Celinho, de alguma forma ele sempre foi vanguarda. No início da d...