Eu entro em cada cilada que só vendo. Outro dia um amigo me pediu pra tomar conta de um peixe. Você leu certo. Um peixe!
Te explico.
Esse meu camarada, o nome dele é Marcos, tem uma filhinha de 4 anos que ganhou um aquário com um peixinho vermelho de cauda azul chamado Charles. Como era de se esperar, a pequena se afeiçoou muito pelo bichinho.
Daí veio um feriadão e eles decidiram viajar para Madalena, cidadezinha do interior do Rio onde o pessoal gosta de ir para ficar olhando estrela à noite. O meu amigo Marcos achou então que seria mais seguro deixar um tutor responsável pelo peixinho Charles. Uma vez que se ele viesse a falecer, por fome ou excesso de temperatura no aquário, seria um desastre para a pobre criança.
Eu achei a história bonitinha e não me opus a ficar cuidando do peixe, afinal, que trabalho isso poderia me dar?
Combinei tudo direitinho e eles deixaram o aquário lá em casa com duas instruções: manter a tampa fechada e alimentar com três bolinhas diárias – eles me deram também um pote com as tais bolinhas.
No primeiro dia que eu fui alimentar o Charles, me dei conta que as tais bolinhas eram minúsculas! Menores que um grão de mostarda. Achei uma muquiranagem dar só três míseras bolinhas para o peixe. Além do mais o Charles estava me olhando com uma carinha de fome.... dei logo umas trinta e oito bolinhas e fui à padaria comprar pão.
Quando eu voltei da padaria estava lá o Charles nadando de barriga para cima:
- Ei Charles véio de guerra! Tá com o buchinho, cheio mô fio!
Algumas horas depois eu olhei para o aquário novamente e estava lá o Charles na mesma posição. Só que dessa vez com uma expressão meio abobalhada e um olhar um tanto sem brilho. Chamei a Maria:
- Amor... vem aqui ver uma coisa...
Ela olhou e foi logo decretando:
- Morreu.
Esse tipo de notícia não se dá assim. Mas quem conhece a Maria sabe: ela é papo reto o tempo todo.
- Ao que parece morreu feliz.
Fiquei ali imaginando como ia contar o caso para Marcos, e a menina tadinha... Depois de muito matutar eu tive uma brilhante ideia. Peguei o corpo do Charles, levei na loja de animais e perguntei para o atendente:
- Tem um igual?
- Morreu?
- Não... ele é atleta de apneia.
- Como?
- Morreu sim meu camarada, tem igual?
- Igual... igual não tem, mas tem parecido.
- Serve.
Peguei o peixinho novo, levei para casa e coloquei no mesmo aquário. A Maria quando viu olhou pra mim e disse:
- Esse é o Charles Segundo?
- É. Será que vão notar?
Ela ficou em silêncio.
Dois dias depois achei que a casa de Charles Segundo estava um tanto suja. Transferi o peixe para um balde e dei uma faxina caprichada no aquário – pelo menos do hardware eu ia cuidar bem. Arrumei a decoração e tudo mais. Ficou uma beleza.
Ao terminar eu olho para o balde... Cadê Charles Segundo?
Tava lá durinho no chão. O miserávi pulou do baldeeeee! Meu deus do céu me venderam um peixe suicida.
Voltei na loja de animais levando o cadáver de Charles Segundo:
- Então... o peixe que vocês me venderam morreu, vou querer outro.
- Vai comprar mais um?
- Nada disso, tem só dois dias que comprei, ainda tá na garantia...
Olha foi uma resenha. Essa parte não vou contar aqui porque envolve o uso de intimidação e palavras de baixo calão. Mas eu fiz valer meu direito de consumidor e peguei mais um peixinho.
Terminado o feriadão meus amigos foram lá em casa para pegar o aquário. A menina ficou toda feliz, mas o danado do Marcos olhou estranho para mim e disse:
- Tá crescidinho o Charles né Lapinha?
Ao que a minha patroa respondeu:
- Charles Terceiro.
É uma saga!
ResponderExcluirSó faltou o cara falar que era Charles IV, kkkkk
ResponderExcluirMuito bom!
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