domingo, 29 de maio de 2022
Hino
domingo, 22 de maio de 2022
Iminência Cearense
A luz no Ceará tem um quê de escama de peixe. Há alguma
coisa prateada e cintilante nos ares que confere ao horizonte um tom assim... metalizado.
Como se alguém tivesse cuidadosamente polido o dia para uma grande
celebração. Como se a qualquer momento algo de extraordinário pudesse
acontecer, absolutamente do nada. Estar no Ceará me traz um tipo singular de
felicidade, uma felicidade no porvir, no acaso do segundo seguinte.
Saindo da Capital peguei a estrada rumo ao leste do estado. A vegetação vai
rareando e se ressequindo com o passar dos quilômetros. O que nas proximidades
do litoral é um verde claro e brilhante, aos poucos vai se tornado cinza e
opaco. Somem os cajueiros e as palmeiras, surgem os mandacarus e as juremas.
Leva-se tempo para apreciar a beleza do sertão. Há de se aprender que toda
aquela desolação está há poucas gotas da apoteose. A vida está ali, suspensa,
aquietada, resistente. O sertão é um noivo a porta da igreja, é um estudante há
poucas semanas da formatura. O sertão sou eu, no fim de um dia de sol, aflito,
durante o tempo que o garçom leva para ir da minha da mesa à chopeira e voltar.
Mas não pense você que a caatinga é monótona e cinza. Vez em quando surge um
juazeiro verde e vistoso, um dia hei de fazer uma crônica só para falar de
juazeiro. Outrora avista-se um buritizal, e no meio deste uma vereda, com
brejos donde os sapos fazem cantoria em cujo arredores o sertanejo faz brotar
uma horta ou um pasto.
Numa destas veredas vi um vaqueiro a juntar uns bois desgarrados que invadiram
a pista. Lembrei de um conto que li da Raquel de Queiroz, onde ela descreve
estes senhores como “belos, valentes e delgados” com seus trajes encourados
“extraordinariamente românticos” capazes de fazer milagres no corpo de um
homem.
Ela então continua descrevendo as nuances do “couro muito justo ao relevo das
pernas e das coxas” e do “guarda peito colado ao torso, cujo gibão amplo acentua
a esbelteza do homem” – Ah Dona Raquel danada! – Ela termina contando que é
redundante dizer que um vaqueiro é esbelto e forte pois caso ele não seja
“enxuto de carnes” nunca encontrará cavalo no sertão que o carregue a cortar a
caatinga atrás de boi.
Pois bem, ocorre que a motocicleta chegou no sertão. E junto com a motocicleta
chegou o refrigerante. E é bem provável que isto seja um problema, pois o
vaqueiro que vi estava longe de ser enxuto de carnes, muito pelo contrário.
Suas ancas fartas extravasavam pelas laterais da moto, pobre máquina, esta sim
fazia jus à fama de bravura do sertanejo. Ele até tinha lá uma
perneira de couro, mas o gibão fora trocado por uma camisa do Paris Saint
Germain novinha e um tanto quanto curta. Na cabeça, um boné de aba reta.
É... O sertão anda mudado Dona Raquel. Mas os juazeiros seguem como dantes.
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.
sábado, 30 de abril de 2022
Papo de Coroa
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.
domingo, 10 de abril de 2022
Educação musical
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.
domingo, 3 de abril de 2022
Caminhos cruzados
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.
Meu primo Célio
E tem esse meu primo Célio, que na intimidade a gente chama de Celinho, de alguma forma ele sempre foi vanguarda. No início da d...
-
Pela primeira vez neste século o Botafogo vive um momento de fato glorioso. Lidera o campeonato brasileiro desde as primeiras ro...
-
Eu entro em cada cilada que só vendo. Outro dia um amigo me pediu pra tomar conta de um peixe. Você leu certo. Um peixe! Te exp...
-
Eu começo essa crônica pedindo encarecidamente para que não deixem essa história chegar lá no Cu da Mãe. Para você que é novo n...