domingo, 19 de fevereiro de 2023

Ricifi


Cheguei no Recife no primeiro dia de fevereiro, mais de duas semanas antes do início do carnaval. Na saída do saguão do aeroporto uma placa enorme anunciava em letras coloridas e garrafais: - Bem-vindo ao Recife capital MUNDIAL da folia e do frevo. 

- Hahã...- esses caras de  Recife tem mania de grandeza, um tipo de paulista do nordeste. 

Entrei num carro de aplicativo e estava tocando a música do Léo Santana. Daí eu puxei assunto com o motorista (tenho esse mal hábito):

- Só toca esse cara, no Brasil inteiro. 

- Rapaz... Esse tá estourado. Também depois daquele clipe, a mulherada endoidou. Você viu? 

- Quem não viu?

Nesse instante, para minha surpresa, a rádio de Recife começa a tocar "História para Ninar Gente Grande" samba-enrredo da Mangueira de 2019. Fiquei surpreso não pelo fato de tocar samba-enrredo, mas por escolherem um tão recente.

- Cara, que saudades do carnaval de 2019! A Mangueira quebrou tudo nesse ano.

- Rapaz, eu vi pela TV - respondeu o motorista - visse lá ao vivo foi?

- Que nada, esse ano eu estava em Minas. Carnaval lá é animado também.

- Siiiim!

Daí começa a tocar Bell Marques e eu digo:

- Esse é um clássico! 

- Bell é o cara. Não tem carnaval sem Bell nãããão.

- Pois é. - Concordei.

- Mas o melhor...

(Lá vem)

- O ME-LHOR é Alceu. Não tem comparação não rapaz...

(Começou)

Daí seguiu um monólogo sobre o carnaval em Pernambuco que durou o resto da viagem. Sim, eu sei que é incrível, mas no Rio também é, na Bahia nem se fala. 

Cheguei no hotel. A única coisa que chamou mais minha atenção que a decoração de carnaval foi o fato de TODOS os funcionários estarem fantasiados. Como se fosse partir um bloco dali a cinco minutos. Inclusive tinha um recepcionista com camisa da CBF e tornozeleira. Achei ousado.

Deixei as malas no quarto e desci pra dar uma corridinha pela orla. Notei que os postes estavam enfeitados. Terminei o exercício e fui tomar um chope para reidratar. O porta-copos do quiosque era com tema de carnaval!

Tudo bem... A essa altura do campeonato Salvador já está toda decorada e no Rio tem bloco todo fim de semana de quinta a domingo. Não me impressiono fácil.

Mas Recife não desistiu de mim. O golpe derradeiro foi no dia seguinte. Oito e quinze da manhã, eu entro numa padaria, peço um café e noto que alguém decorou o pires da xícara. 

Veja bem.

Alguém...

Pegou uma cartolina com temas carnavalescos, recortou de um jeito que encaixava perfeitamente na xícara e colocou sobre o danado do pires.

Se eu estivesse uma hora dessas no Centro do Rio estava tomando café num copo americano naquela cafeteria do gaúcho que fica na esquina da São José com a Rodrigo Silva.

Definitivamente, não dá para competir com isso. 


 Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.

Meu primo Célio

E tem esse meu primo Célio, que na intimidade a gente chama de Celinho, de alguma forma ele sempre foi vanguarda. No início da d...