Chuva fina,
vento frio, cortante. Uma névoa espessa cobrindo o céu e o horizonte donde mal
se podiam distinguir os edifícios. Assim a Paraíba me recebeu, no inverno de
Campina Grande.
Fui
recepcionado com pompas de poeta, logo eu. Levaram-me para jantar no “La
Forneria”. Salão bem decorado, quadros renascentistas nas paredes, guardanapos
de pano e o escambau. Tudo muito bem ornado com uma pegada moderninha,
acabamento industrial, tijolos aparentes, pé direto elevado. Enfim, ambiente de
deixar caído qualquer queixo barbudo de hipster.
Pois bem, enquanto eu descobria
meu risoto com basílico, pinoli e tudo mais, deixei escapulir em voz alta um
pensamento:
- Eu pensava mesmo em comer um
bodezinho assado hoje...
- E é o que?
O estrago já estava feito, deixei
fluir o sincericídio:
- Um
bodezinho, uma carne de sol ... e no lugar desse vinho, que está ótimo por
sinal, eu queria mesmo era essa cachaça boa que vocês fazem aqui na Paraíba.
- Então quer dizer que o poeta é
da bagaceira?
- Ha ha ha.... - respondi com uma gargalhada
- Oxente! E eu aqui nessa frescura que nem gosto!?
- Foi você que me trouxe aqui. Sofreu porque que quis.
- Foi você que me trouxe aqui. Sofreu porque que quis.
- Sofreu um breu! Simbora que
você tá é na Paraíba.
Perdemos a noite,
mas ganhamos a madrugada. Urbana e fria, porém agora, estrelada. Num instante
estávamos margeando o Açúde Velho com suas obras modernistas. Descemos a
Vigário Calixto e adentramos ao “Bar na Volta”. Do presunto Parma e merlot para
tripa e cachaça de Areia. Cachaça extremamente gelada, viscosa, como manda a
tradição paraibana.
Dalí
retornamos ao centro. O comércio da Rua Venâncio Neiva dormia tranquilo, nos
permitindo observar o contorno delicado de seus sobrados em art nouveau, timidamente espremidos, entre letreiros e toldos de lona. Rodeamos
a rua Marques do Herval onde a Praça da Bandeira é ornada por algarobas, poucos
buritis e pelo evidente prédio azul do Colégio da Imaculada Conceição Damas. Nesta
praça as barraquinhas fazem a alegria dos boêmios mais resitentes.
Seguimos
vagando pela madrugada. No alto da rua Dom Pedro II, pense numa ladeira, avisa-se
o Bodocongó. Com suas águas plácidas e arredores ajardinados. No meio do açude
um único barquinho, à deriva na madrugada. Donde talvez, àquela hora, um casal
de universitários era feliz perdidos com um remo só. Do outro lado do açude,
atravessando o Campus da Universidade Estadual da Paraíba há um mirante, onde
os românticos velam o sono da cidade.
Os primeiros
raios de sol ganhavam o horizonte da Borborema e eu ainda declamava meus versos
aos últimos notívagos.
- Simbora pra
feira Lapinha.
- Fazer o
quê?
- Tomar café
da manhã ué?
- Na Feira?
- Você não
queira comer bode?
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.
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