domingo, 2 de maio de 2021

O Brasil Acabou


Senhoras e senhores, não foi só o Botafogo, o Brasil também acabou. Foi esta a conclusão de um concílio envolvendo a mais elevada casta da intelectualidade nacional. Crème de la crème da sociedade. Seleto grupo composto por frequentadores dos mais renomados botecos do tipo pé sujo, cu de fora e bunda pro alto do Rio de Janeiro e adjacências. 

Não confundam cu de fora e bunda pro alto. O boteco cu de fora é aquele onde o balcão é compartilhado, porém dentro do estabelecimento. Você entra, senta em um tamborete de costas pra rua e fica lá de boas sendo mal atendido e pagando cofrinho. O boteco bunda pro alto é só de meia porta, não tem como entrar. Você fica bebendo de pé do lado de fora, apoiado do balcão coma bunda pro alto. Normalmente o dono do bar, que também é o garçom, fica bebendo junto contigo e sai de vez em quando pra fritar qualquer coisa, porque ele também é o cozinheiro. 

Pé sujo todo mundo que se sujeita a ler essa coluna sabe muito bem o que é.

O encontro aconteceu em ambiente aberto e arejado cuja localização eu não posso revelar para evitar aglomerações. De antemão aviso que todas as medidas sanitárias foram tomadas, ou quase. Enfim a decisão não foi unânime, porém incontestável e taxativa. Sabe aquele Brasil que a gente gostava?

Acabou.

...

Pausa pra você tomar um ar.

...

Aquele Brasil onde eu frequentava um pagode lá em Pilares, churrasco na laje com Picanha. PI-CA-NHA malandro. Nesse tempo picanha custava vinte e oito e noventa na promoção. Morô? Cerveja do casco verde mané... E ficava eu e meu amigo Sid - o Sid além de preto é antropólogo e botafoguense, não tem como ser melhor – ficava eu e meu amigo Sid olhando pro Alemão... Aquele teleférico indo e vindo em cima das casinhas... E a gente falando:

- Oh que loko isso Sid.

- É inacreditável Lapinha.

- Saporra um dia vai dar merda...  não vai dar não Sid?

- Ah vai...

Deu.

E deu muito. Merdou geral acabou o Brasil.

Hoje tem que fazer conta pra comprar não é picanha não meu queridão, é o arroz.

O Brasil é um tipo de Karol Conka. Tava indo bem, no auge, bombando e tal... resolveu fazer uma merda na vida, tombou, acabou.  

- Ah Lapinha tá sendo pessimista... 

Malandro, queridão, meu chegado? Acorda, acabou. Tamo lascado.

Não sou eu, foi um colegiado das melhores mentes já produzidas pela humanidade que decidiu. – Ah mas eu não estava sabendo de encontro – Meu querido, se você não foi convidado... pensa aí. 

- Ah, mas se acabou faz o que agora?

Agora infelizmente não dá pra fazer nada meu camarada. O Brasil acabou tipo um peido no elevador. E estamos vivendo o instante pós peido. Não dá pra sair do elevador, ele não vai parar tão cedo. Aquele momento em nossas vidas que tudo o que a gente pode fazer é abanar o nariz e dizer – puta que pariu quem foi o filho da puta responsável por essa desgraça?

O fedor só aumenta, a gente não consegue respirar, é COVID, negacionista, terraplanita, golpista, miliciano, sectarista, fanático, torturador, fundamentalista, racista, boi tatá, assombração, gente que diz que a princesa Frozen vai voltar pra acordar a Bela adormecida num beijo sensual, mula sem cabeça, vampiro, o diabo a quatro.  Não dá pra achar o botão de emergência, o Belchior morreu, vou ficar no oitavo andar e tentar sobreviver meu camarada. Só isso só. Não dá pra fazer mais nada não.

- Ah mas e depois? 

Depois a gente faz como fez em 1989. Junta uma galera e funda um novo Brasil. Porque esse, esse não, aquele. Aaqueeeele Brasil lá que a gente tinha acabou.

Mas vê se chama só os pretos e os índios porque os brancos já fundaram esse país sete vezes e em todas elas deu merda. Desiste aí galera.

O Brasil acabou.

O Botafogo também.

O Vasco ainda não.

A esperança também não.

Vai sair todas aquelas tranqueiras da caixa de Pandora e vai ter a esperança lá no fundo. Disso você já sabe né? Mas não vá ficando animadinho porque a esperança também é uma desgraça. Caso contrário não estaria com essas más companhias. Tipo eu e o Sid lá em Pilares. Você não queira imaginar o tipo de gente que frequentava aquele pagode lá.

Mas a esperança taí. Preta, parda, mulata, amarela – Salve Emicida! Vamo ter que refazer do zero. Mas vamos refazer, e vai ser lindo. O novo sempre vem. Mas vamos parar de peidar aí gente, pelo amor. Coisa desagradável. 


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