sexta-feira, 17 de abril de 2015

Pássaro Negro – Segunda Parte




O brado do Pássaro Negro chamou a atenção de todos na praça. Pintura impecável, rodas de liga leve, aerofólios traseiros, incontáveis cavalos de potência, um primor de automóvel. Pedrinho abaixou o vidro, colocou o braço para fora, estufou o peito, pisou fundo. Olhou para o mercador de combustível:

- Será que com meio tanque a gente chega em Xerém?

- Melhor abastecer. Respondeu Leandro.

- Vocês estão de sacanagem né?

- Xerém é longe pra caramba Xandi, e eu falei pra minha mãe que a gente ia no Bira, se a gente voltar com o tanque vazio ela vai desconfiar.

Alexandre respirou fundo, engoliu as palavras enquanto o Pássaro Negro adentrava ao posto de gasolina.

- Falaí parceiro. Disse Pedrinho ao frentista – Completa o tanque.

Minutos depois.

- Quarenta reais e quinze centavos senhor.

- Heim?

- Quarenta reais e quinze centavos.

- Puta que pariu! Bem que meu pai vive reclamando do preço da gasolina. Ouviu aí Xandi? Quarenta reais e quinze centavos.
- Você é um mongoloide dos infernos Pedrinho, tinha que mandar completar a porra do tanque? Não dava pra pedir pra colocar vinte reais de gasolina?

- Agora que você me avisa?

- Agora que vi a merda que você fez, eu estava no zapzap com a Rafaela.

- Ah, larga de ser chorão, passa logo a grana.

- Pede o troco.

Alexandre tomou ar, refez as contas, restavam setenta e seis reais e noventa centavos. Pegaram a BR rumo à longínqua Xerém. Se o Pássaro Negro era uma potência nas ruas, na estrada era um foguete. Os quilômetros eram engolidos sem a menor cerimônia, as curvas ignoradas, uma fera indomável. O som no último volume, música de Seattle baby! Alexandre foi o primeiro a avistar as luzes suspeitas na estrada.

- Ai, ai, ai... Que merda é essa aí na frente.

- Pedágio. Respondeu Pedrinho.

- Pedágio? Se fosse possível Leandro teria caído para traz.

- Pedágio. Ratificou Pedrinho.

- Quanto é?

- Não faço ideia Xandi.

- Vê a placa demente!

- Espera moleque ainda não dá pra ler... São...  Quinze e noventa.

- O QUÊ?

- QUIN-ZE E NO-VEN-TA!!!

- Ai caralho... E agora?

- Tem que pagar Xandi, vamos fazer o que? Indagou Pedrinho. - Já viemos até aqui.

- Vão sobrar sessenta e um reais pra gente gastar na vaquej... 

- Esqueceu da volta moleque? Foi interrompido por Pedrinho.

- O que que tem?

-Tem que pagar o pedágio do volta animal. Vai ficar morando em Xerém.

- Deu ruim! - Refez as contas – Vai sobrar quarenta e cinco reais e dez centavos. Você que viu na Internet Leandro, quanto é o ingresso?

- Trinta...

- Heim?

- Trinta, mas estudante paga meia.

- Puta merda vai dar certim.

- Certim nada, vai sobras dez centavos pra cerveja.

Caíram na gargalhada. Pagaram o pedágio, pegaram o acesso a Xerém, cruzaram o centrinho, se perderam, pediram informação, enfim se aproximaram do Parque de Exposições. Abaixaram novamente os vidros. Uma multidão de jeans e chapéu de cowboy se amontoava no caminho para o show. Aumentaram o som e chamaram a atenção rapidamente. Não pelo Pássaro Negro, cuja exuberância se apequenou em meio a tantas pick-ups. Contudo, naquela multidão country, nada era mais exótico que três caras cabeludos, batendo cabeça e gritando – BOOOORN TO BE WILD!!!  Na medida em que os meninos se aproximavam do parque o tráfego de veículos e de pessoas se adensava. Uma tremenda confusão. Um sujeito se aproximou da janela:

- Estacionamento aqui. – Apontou para um terreno baldio – Lá pra frente está tudo cheio. Faço trinta pra vocês.

- Tô fora amigo.

- Se deixar na rua a Guarda vai rebocar.

Nesse momento Alexandre começou a suar frio.

- Agora fudeu...

5 comentários:

  1. Agora fudeu, mesmo! Vou esperar um mês para ler a última parte... Sacanagem!

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  2. Agora fudeu, mesmo! Vou esperar um mês para ler a última parte... Sacanagem!

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  3. Gente, esses meninos vão ter que vender o corpo para conseguir algum dinheiro!!!! Kkkkk

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  4. Muito legal. Coloca de modo leve a triste situação nossa de cada dia... Pra irmos na esquina temos que gastar... Viva o capitalismo selvagem!!
    Ps.: Já disse isso, mas tenho que repetir... Suas crônicas são devorantes. Seu jeito de escrever é muito envolvente. Deveria fazer um compêndio e publicar. Ia vender mais que gasolina a 1 Real. Muito bom!

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