O brado do
Pássaro Negro chamou a atenção de todos na praça. Pintura impecável, rodas de
liga leve, aerofólios traseiros, incontáveis cavalos de potência, um primor de
automóvel. Pedrinho abaixou o vidro, colocou o braço para fora, estufou o
peito, pisou fundo. Olhou para o mercador de combustível:
- Será que
com meio tanque a gente chega em Xerém?
- Melhor
abastecer. Respondeu Leandro.
- Vocês estão
de sacanagem né?
- Xerém é
longe pra caramba Xandi, e eu falei pra minha mãe que a gente ia no Bira, se a
gente voltar com o tanque vazio ela vai desconfiar.
Alexandre
respirou fundo, engoliu as palavras enquanto o Pássaro Negro adentrava ao posto
de gasolina.
- Falaí parceiro. Disse Pedrinho ao
frentista – Completa o tanque.
Minutos
depois.
- Quarenta
reais e quinze centavos senhor.
- Heim?
- Quarenta
reais e quinze centavos.
- Puta que
pariu! Bem que meu pai vive reclamando do preço da gasolina. Ouviu aí Xandi?
Quarenta reais e quinze centavos.
- Você é um
mongoloide dos infernos Pedrinho, tinha que mandar completar a porra do tanque?
Não dava pra pedir pra colocar vinte reais de gasolina?
- Agora que
você me avisa?
- Agora que
vi a merda que você fez, eu estava no zapzap
com a Rafaela.
- Ah, larga
de ser chorão, passa logo a grana.
- Pede o
troco.
Alexandre
tomou ar, refez as contas, restavam setenta e seis reais e noventa centavos.
Pegaram a BR rumo à longínqua Xerém. Se o Pássaro Negro era uma potência nas
ruas, na estrada era um foguete. Os quilômetros eram engolidos sem a menor
cerimônia, as curvas ignoradas, uma fera indomável. O som no último volume,
música de Seattle baby! Alexandre foi o primeiro a avistar as luzes suspeitas
na estrada.
- Ai, ai,
ai... Que merda é essa aí na frente.
- Pedágio.
Respondeu Pedrinho.
- Pedágio? Se
fosse possível Leandro teria caído para traz.
- Pedágio.
Ratificou Pedrinho.
- Quanto é?
- Não faço
ideia Xandi.
- Vê a placa
demente!
- Espera
moleque ainda não dá pra ler... São...
Quinze e noventa.
- O QUÊ?
- QUIN-ZE E
NO-VEN-TA!!!
- Ai
caralho... E agora?
- Tem que
pagar Xandi, vamos fazer o que? Indagou Pedrinho. - Já viemos até aqui.
- Vão sobrar
sessenta e um reais pra gente gastar na vaquej...
- Esqueceu da
volta moleque? Foi interrompido por Pedrinho.
- O que que tem?
-Tem que
pagar o pedágio do volta animal. Vai ficar morando em Xerém.
- Deu ruim! - Refez as contas – Vai sobrar
quarenta e cinco reais e dez centavos. Você que viu na Internet Leandro, quanto
é o ingresso?
- Trinta...
- Heim?
- Trinta, mas
estudante paga meia.
- Puta merda
vai dar certim.
- Certim nada, vai
sobras dez centavos pra cerveja.
Caíram na gargalhada. Pagaram o pedágio, pegaram o acesso a
Xerém, cruzaram o centrinho, se perderam, pediram informação, enfim se
aproximaram do Parque de Exposições. Abaixaram novamente os vidros. Uma
multidão de jeans e chapéu de cowboy se amontoava no caminho para o show.
Aumentaram o som e chamaram a atenção rapidamente. Não pelo Pássaro Negro, cuja
exuberância se apequenou em meio a tantas pick-ups. Contudo, naquela multidão
country, nada era mais exótico que três caras cabeludos, batendo cabeça e
gritando – BOOOORN TO BE WILD!!! Na
medida em que os meninos se aproximavam do parque o tráfego de veículos e de
pessoas se adensava. Uma tremenda confusão. Um sujeito se aproximou da janela:
- Estacionamento aqui. – Apontou para um terreno baldio – Lá
pra frente está tudo cheio. Faço trinta pra vocês.
- Tô fora amigo.
- Se deixar na rua a Guarda vai rebocar.
Nesse momento Alexandre começou a suar frio.
- Agora fudeu...
Agora fudeu, mesmo! Vou esperar um mês para ler a última parte... Sacanagem!
ResponderExcluirAgora fudeu, mesmo! Vou esperar um mês para ler a última parte... Sacanagem!
ResponderExcluirTerceira parte!!!! Uhul...
ResponderExcluirGente, esses meninos vão ter que vender o corpo para conseguir algum dinheiro!!!! Kkkkk
ResponderExcluirMuito legal. Coloca de modo leve a triste situação nossa de cada dia... Pra irmos na esquina temos que gastar... Viva o capitalismo selvagem!!
ResponderExcluirPs.: Já disse isso, mas tenho que repetir... Suas crônicas são devorantes. Seu jeito de escrever é muito envolvente. Deveria fazer um compêndio e publicar. Ia vender mais que gasolina a 1 Real. Muito bom!