Alexandre mal
podia conter a ansiedade, andava sem rumo pela casa, não desgrudava do celular:
- Esse tempo que não passa. Era uma sensação de inquietude ímpar, uma revoada
de mariposas bem no meio do seu estômago. Tinha planejado cada detalhe daquela
noite, cada gesto, cada passo, tudo muito bem premeditado. O coração mal cabia
no peito, a boca seca, os joelhos frouxos. Os pensamentos o levaram tão longe
que quando se deu conta já estava atrasado.
Apressou-se
no banho, caprichou no gel para moldar a cabeleira encaracolada, fitou
seus olhos lânguidos no espelho, as
sobrancelhas grossas lembravam as do avô – São sinais de personalidade forte
meu filho. Resolveu retirar o buço que há meses não engrossava a despeito das
simpatias que haviam lhe ensinado. A pele queimada e a angulação no seio do
nariz lhe davam ares de mouro. Vestiu-se de preto com de costume, mirou-se
novamente no espelho. Tinha um jeitão
rústico inconsonante com o estilo grunje,
todavia o ar despojado acentuava sua autenticidade, o avô tinha razão, gostou
do que viu.
- Vai chegar
que horas menino?
- Cedo mãe.
- Sei, cedo
para o café da manhã.
Todo sábado
ele fazia a mesma piada infame e ela passava a noite em claro a espera do
filho. Ser mãe de adolescente no Rio de Janeiro está longe de ser uma tarefa
fácil. Beijou a mãe, fez festa com o cachorro, desceu as escadas e foi bater na
casa do amigo Leandro. Eram amigos e vizinhos desde sempre talvez. Leandro se
tornou um rapazola longilíneo, pele alva castigada pelo clima, cabelos
dourados, olhos vívidos, assustados, aura de surfista, desatento. Atendeu a
porta:
- Coé Xand, falou com ela?
- Coé Leandro, tá tudo certo, ela vai
levar as amigas, daí vocês desenrolam. E o carro?
- Minha mãe
emprestou.
- Emprestou o
que? Aquele passat velh....
- O PÁSSARO
NEGRO cara!
- Ahhh muleque agora sim! É nós!
- É, mas o
Pedrinho vai ter que ir dirigindo.
Pedrinho era
o mais velho da tríade, as mães confiavam nele embora não houvesse motivos para
isso. Um perfeito finório, portador de um carisma invejável era capaz de vender
qualquer coisa, principalmente a si mesmo. Sorriso fácil, ombros largos, boa
pinta, olhava nos olhos: - Fica tranquila tia, eu tomo conta deles. Pronto,
quem não se derretia?
- Pedro toma
cuidado com esse carro. – Advertiu a mãe do Leandro – é só pisar que ele voa
longe.
- Tá tranquilo tia, já tenho dois anos de
carteira. Cadê os moleques?
- Estão vindo
ali.
Alexandre e
Leandro adentravam a garagem do prédio. Ouviram menos de dez por cento das
recomendações da pobre senhora. Entraram no carro:
- E aí
Pedrinho?
- Coé Xandi? Cadê as amigas da sua mulé?
- Minha mulé é o carai. Tamo só ficando!
- Não mete
esse caô, Leandro já entregou que
você tá todo apaixonadinho.
- Esse viadinho está com ciúmes, tenho mulé nesse mundo não cara, sou muleque piranha!
É obvio que
ele mentia, há muito não tirava Rafaela da cabeça. Conheceram-se no cursinho,
ela se aproximara dele por interesses matemáticos, uma amiga o havia indicado:
– Pergunta pra ele, maior nerd.
- Aquele ali
com cara de boy? Não parece.
Ela foi,
gostou da explicação, gostou mais ainda do jeitão de professor. Teve que se
esforçar para fazê-lo entender que inventava todas aquelas dúvidas. Quando já
estava desistindo ele lhe roubou um beijo. Ela roubou de volta. E assim
seguiram com beijos apressados as escondidas do pai da moça, que marcava ponto
na hora da saída. Rafaela era do Recife, os olhos de Holanda e o sorriso fácil
não lhe negavam as origens. A metade da vida passada no Rio lhe roubara o
sotaque, mas não os hábitos. O olhar dissimulado e as ancas proeminentes a
faziam parecer mais velha. Convenceu o Alexandre a ir a uma vaquejada em Xerém,
ele odiava música sertaneja, mas havia dito exatamente o oposto para a moça.
- Como é que
você está de grana Leandro?
- Minha mãe
me deu cinquenta, e tu Xandi?
- Quarenta.
- Quarenta?
Você tinha me dito que tinha sessenta!
- Comprei
camisinha e essa Halls, servido?
- Caraca muleque! Retrucou Pedrinho. - Vinte reais de camisinha!
Vai pegar um time de vôlei inteiro?
- Pô, melhor errar pelo excesso...
Na realidade
ele tinha comprado um gibi do X-Man , mas preferiu omitir a informação. Pedrinho
continuou:
- Excesso?
Moleque se você conseguir pegar num peitinho hoje já tá de bom tamanho. Não
tinha necessidade nenhuma de gastar vinte reais com camisinha. Tá pensando que
você é quem? Hercules?
- E tu
Pedrinho? Tem quanto?
- Calmaê...
Revirou a
carteira, contou umas moedas.
- Vinte sete
reais e cinco centavos.
- Vinte sete
reais e cinco centavos!? Respondem em coro, Leandro e Alexandre.
- Pô galera, tô morando sozinho agora, tive que pagar
a conta de luz...
Alexandre fez
as contas, franziu a testa. - Cento e dezessete reais e cinco centavos, vai ter
que dar...
Aguardo o final!! :)
ResponderExcluirSensacional!!!
ResponderExcluirAdorei saber sobre uma noitada de meninos... Interessante!!! :)
ResponderExcluirCuriosa p mais....
Adorei saber sobre uma noitada de meninos... Interessante!!! :)
ResponderExcluirCuriosa p mais....
Seu texto é uma delícia de ler!! Muito bom, Elessandre!! :)
ResponderExcluirAdorei o texto! Voltei aos 17 e entrei no carro com os moleques... rs
ResponderExcluirObrigado pela opinião. Já estão disponíveis as partes 2 e 3.
ExcluirObrigado pela opinião. Já estão disponíveis as partes 2 e 3.
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