domingo, 1 de março de 2015

Quem é o carioca?



Sobre 450 anos de encontros.

Outro dia eu estava tomando um chope num botequim em Del Castilho, nada mais é mais carioca que tomar chope em Del Castilho. Ao conversar com os parceiros sobre nossas origens descobri surpreso que mais da metade tinha pais ou avós vindo do nordeste, os demais Minas, Portugal, sul do Brasil, apenas um de nós descendia de três gerações de cariocas.

Quando Estácio de Sá, um jovem de vinte e poucos anos, fundou esta cidade, sua tropa era composta de portugueses, alemães, italianos, espanhóis, holandeses, franceses (pasmem), africanos e índios, incluindo o lendário Araribóia. Estava na cara que nascia um lugar fadado a ser plural, miscigenado, convergente, cosmopolita. A maioria de nós, que hoje beiramos os sete milhões, veio da fora e foi abraçada pela cidade cujo símbolo de braços abertos transcendeu à imagem cristã e à mensagem de amor, fraternidade e alegria. É assim que somos, é assim que recebemos, é assim que nos recebem.

Então afinal quem é o carioca? É o português botafoguense de Vista Alegre que jura que ama a boemia, mas na verdade não consegue passar mais de 8 horas longe da família. É o curitibano da Guaratiba que cruzou a cidade de oeste a leste, fez escala na Praça da Bandeira, e hoje posa em Niterói, boladão de braços cruzados, contemplando o outro lado da baía e pensando que talvez tenha ido longe demais. 

O carioca é o pescador que já não pesca, nem vende cerveja no Maracanã, porque afinal descobriu na paternidade a vocação. O carioca tem olhos esbugalhados, fala muito alto e é engraçado a veras. É um sujeito que sai de Laranjeiras e sobe a Serrinha por saudades do batuque. É uma paraense da Vila da Penha que faz amizade fácil e não anda cinco metros sem parar para conversar. É um negão do Complexo que sabe muito bem a diferença entre uísque e água de coco, prefere o primeiro, mas não vive sem o segundo.

Ser carioca não é uma questão de registro, é questão de escolha. Você pode nascer há dois mil e quinhentos quilômetros da Tijuca, passar seis meses na Ilha do Governador e virar carioca. Mesmo que atenda ao telefone dizendo – prooooonto – e se despeça dizendo – um cheiro! Ser carioca é ser parado por uma celebridade perdida na Lapa – Aí amigo, onde é a Rua do Carmo? – e responder – Você tá longe Gabriel, pega um taxi ou compra um GPS porque o 175 não passa mais lá. Zuei!

Olha só, vou parar por aqui, 450 anos dá pra juntar muitas histórias maravilhosas, mas maravilhoso mesmo é morar no caos e poder tirar onda. Vou ali dar uma volta, talvez eu tire uma foto de uma dessas montanhas que deixa todo turista boquiaberto, talvez eu acabe numa gafieira mesmo sem saber sambar, talvez eu pare para tomar café na Ouvidor... Talvez. Partiu?

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