Sobre 450 anos de encontros.
Outro dia eu estava tomando um
chope num botequim em Del Castilho, nada mais é mais carioca que tomar chope em
Del Castilho. Ao conversar com os parceiros sobre nossas origens descobri
surpreso que mais da metade tinha pais ou avós vindo do nordeste, os demais
Minas, Portugal, sul do Brasil, apenas um de nós descendia de três gerações de
cariocas.
Quando Estácio de Sá, um jovem de
vinte e poucos anos, fundou esta cidade, sua tropa era composta de portugueses,
alemães, italianos, espanhóis, holandeses, franceses (pasmem), africanos e
índios, incluindo o lendário Araribóia. Estava na cara que nascia um lugar
fadado a ser plural, miscigenado, convergente, cosmopolita. A maioria de nós,
que hoje beiramos os sete milhões, veio da fora e foi abraçada pela cidade cujo
símbolo de braços abertos transcendeu à imagem cristã e à mensagem de amor,
fraternidade e alegria. É assim que somos, é assim que recebemos, é assim que
nos recebem.
Então afinal quem é o carioca? É
o português botafoguense de Vista Alegre que jura que ama a boemia, mas na
verdade não consegue passar mais de 8 horas longe da família. É o curitibano da
Guaratiba que cruzou a cidade de oeste a leste, fez escala na Praça da Bandeira,
e hoje posa em Niterói, boladão de braços cruzados, contemplando o outro lado
da baía e pensando que talvez tenha ido longe demais.
O carioca é o pescador que já não
pesca, nem vende cerveja no Maracanã, porque afinal descobriu na paternidade a
vocação. O carioca tem olhos esbugalhados, fala muito alto e é engraçado a
veras. É um sujeito que sai de Laranjeiras e sobe a Serrinha por saudades do
batuque. É uma paraense da Vila da Penha que faz amizade fácil e não anda cinco
metros sem parar para conversar. É um negão do Complexo que sabe muito bem a
diferença entre uísque e água de coco, prefere o primeiro, mas não vive sem o
segundo.
Ser carioca não é uma questão de
registro, é questão de escolha. Você pode nascer há dois mil e quinhentos
quilômetros da Tijuca, passar seis meses na Ilha do Governador e virar carioca.
Mesmo que atenda ao telefone dizendo – prooooonto – e se despeça dizendo – um
cheiro! Ser carioca é ser parado por uma celebridade perdida na Lapa – Aí
amigo, onde é a Rua do Carmo? – e responder – Você tá longe Gabriel, pega um
taxi ou compra um GPS porque o 175 não passa mais lá. Zuei!
Olha só, vou parar por aqui, 450
anos dá pra juntar muitas histórias maravilhosas, mas maravilhoso mesmo é morar
no caos e poder tirar onda. Vou ali dar uma volta, talvez eu tire uma foto de
uma dessas montanhas que deixa todo turista boquiaberto, talvez eu acabe numa
gafieira mesmo sem saber sambar, talvez eu pare para tomar café na Ouvidor... Talvez.
Partiu?
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