Acordei atrasado no meu ap em São Conrado, puta cilada, se
eu pudesse esperar pra ir amanhã o atendimento poderia ser feito na Rua
Bartolomeu Mitre, mas como eu tenho um compromisso na Fátima vou ter que ir
hoje mesmo, não posso mais adiar, cuidar da minha gatinha é prioridade. Onde
será essa Rua do Carmo? No Centro meu Deus... Acho que nunca fui ao Centro.
Cheguei a sala lá estava ela, absorta no seu café da manhã,
linda como sempre, seus olhos azuis de cigana a me fitar, a me julgar, a me
decifrar. Olhou para a janela com um certo desdém, deixou a mostra a orelha
esquerda, não há no mundo orelha mais perfeita. Esse ar independente e superior
é o que me cativa. Que Rua do Carmo? Eu iria do outro lado do mundo por ela.
Onde vou estacionar? No Centro meu Deus, tinha que ser no
Centro? Liguei para o meu parceiro Chiquinho da Fundição, ele me convenceu a
deixar o carro lá e depois ir a pé que era pertinho. Minha gatinha ficou
furiosa quando a apressei – estamos atrasados docinho, vamos – esbarrei no pires,
foi leite pra todo lado, ela me olhou como quem diz – estupido – pensei em
retrucar, mas aqueles olhos azuis não merecem repreensão. Homem apaixonado é
otário demais.
Eu não devia ter confiado no
Chiquinho. Saí da Fundição e em duas esquinas estava perdido na Lapa, vi uma
viatura – amigo sabe onde é a Rua do Carmo? Ele nem ergueu os olhos – sei não
senhor – Gente essa PM vai de mal a pior, como assim ele não conhece as ruas do
Centro? É um absurdo! Olhei para o lado vinha dois caras se aproximando – Aí
pessoal! Algum de vocês sabe onde é a Rua do Carmo? – um deles me olhou e
respondeu – Você tá longe Gabriel, pega um táxi ou compra um GPS, porque o 175
não passa mais lá – engraçadinho fazendo piada com minha música. Percebi que o
outro cara ia me explicar quando um gari interrompeu pra tirar uma foto,
agradeci dizendo que ia mesmo pegar um táxi.
Quanto acabei de tirar a foto lembrei-me
da minha gatinha, que a esta altura do campeonato já estava enfurecida ao lado
da viatura da PM. Ela não está acostumada com esse calor, conhecendo o seu temperamento
não sei como ela ainda estava ali plantada me esperando. Que perigo! Peguei o
primeiro táxi que surgiu – Rua do Carmo amigo! Até que chegamos rápido, bem a tempo
da tosa. Por fim deu tudo certo, gatinha feliz, vida feliz. Mas cá entre nós,
manter a beleza dessa gata é um trabalho estonteante.
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