Outro dia estava lendo uma publicação evangélica que tratava sobre a
Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin. Já no parágrafo das
conclusões o autor argumentava que: “Acreditar na teoria de Darwin exige muito
mais fé do que acreditar na teoria criacionista”. Dado que a fé é um dos
fundamentos do cristianismo tomei isso como um argumento favorável à Darwin,
mas tenho a impressão que entendi tudo errado.
Mas isso não importa, as espécies continuam seu caminho evolucionário
independentemente de nosso apoio político/ideológico. A questão que quero
levantar é: que rumo tem tomado a chamada fé Cristã e o que tem significado ser
cristão no cotidiano de nossa terra tupiniquim. Por definição cristão é aquele
que pratica o que fora ensinado por Jesus, o Cristo, e seus sucessores. Ou
ainda àquele que tem fé em Cristo. Ser cristão é ser um homem de fé.
Ora a fé pode ser algo tão alienatório quanto libertador. A fé que
aliena é cega, tola, acéfala. Fruto de um comodismo típico da modernidade, onde
preferimos molho de tomate enlatado contendo 10% do fruto ao invés de fazermos
nós mesmos o nosso molho, como fazia a nossa avó, cozinhava o fruto, tirava a
pele, as sementes, cozinhava de novo... Aff! Muito trabalho. Segundo o escritor
espanhol Miguel de Unamuno “Fé não é crer no que não vimos, mas é criar o que
não vemos”. Nesse sentido libertário a fé é como o espaguete da vovó,
extremamente saudável e cada vez mais raro.
O fato professar fé em alguma forma de divindade deveria tornar a
mente do cidadão religioso mais aberta que de a um ateu, que é um sujeito preso
à necessidade de comprovações materiais. Àquele disposto a acreditar em coisas
que de alguma maneira ainda não podem ser vislumbradas é mais apto à abstrações
e às novas possibilidades que trazem, não o oposto. A prática saudável da fé
torna o homem mais aberto às novas teorias, aos avanços científicos, às novas
verdades, a toda possibilidade outrora mística trazida à luz do conhecimento.
Partindo da fé em termos genéricos e especificando na fé cristã, fé em
Jesus o Cristo, cuja obra é pautada no amor, no perdão e na tolerância. Penso que o fato de ser cristão deveria
capacitar o homem a entender melhor as diferenças, sejam elas religiosas,
culturais, étnicas, comportamentais, sexuais. Jesus era, sobretudo, um
humanista. Tamanho é meu espanto quando vejo supostos cristãos dispendendo
tempo e dinheiro em campanhas contra os homossexuais, contra os que professam
outra religião - em particular as de origem africana - contra os direitos
humanos! Falar em direitos humanos virou sinônimo de herege defensor de
bandidos.
Seguir o que ensinou Jesus Cristo deveria fazer do cristão um inimigo
de sistemas que primam pelo individualismo, pela competição ferrenha, pelo
lucro a todo custo. O cristianismo em sua essência coloca homem e sua
necessidade de viver em plenitude no foco de qualquer sistema, seja ele
político, cultural, científico, financeiro. Mas ao que me parece eles andam
apoiado o liberalismo econômico e agenda da direita semifascista.
Mundo louco esse em que vivemos onde, ao que me parece, os cristãos
que praticam a fé de maneira mais plena são os que se proclamam ateus.
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