sábado, 28 de fevereiro de 2015

A Magrinha



Era uma manhã turbulenta, toneladas de peças de bronze caíam diante de mim num chacoalhar incessante. Ele tentava me explicar tudo, possuía uma áurea mágica, típica dos professores natos.  Todavia, aquele barulho me incomodava tanto que levaria muito tempo até que eu enfim, compreendesse a totalidade daquelas reações.
 Fizemos uma pausa, em poucos passos o ambiente silenciava, cruzamos o posto policial, do outro lado da fronteira tudo era mais calmo e verde, e em nada lembrava a confusão daquela fábrica, exceto pela postura circunspecta dos policiais à porta. À nossa frente, um amplo campo revelava-se, onde sabiás e quero-queros faziam seus ninhos. Ao fundo, um jardim com flores vermelhas anunciava que o verão atingira seu auge. Caminhávamos sobre a calçada, um mamoeiro frutificava espremido perto do muro. Um céu azul com nuvens diáfanas completava o cenário. Mais um dia perfeito e eu aqui no trabalho, as contas precisam ser pagas.
Foi quando ela veio descendo a escada, calça jeans, regata azul, passaria despercebida por mim, mas não por ele, nunca por ele, sabe com é olhar de poeta, ouvido de músico. – Venha cá, vou te apresentar uma pessoa... Olha que charme! Que simpatia! Dizia Ele com ar boêmio. Eu nunca vira uma pretinha ruborizar daquele jeito, nem nunca voltaria a ver.
 Aquele foi um dia em que eu avistei muitas coisas pela primeira vez, mas nenhuma foi tão luminosa quanto aqueles sorrisos. Era tudo tão óbvio, tão familiar. Um novo ciclo se iniciava, eu ainda não sabia, ele terminaria poucos anos depois. Contudo aqueles sorrisos, ah! Aqueles sorrisos fizeram tudo valer a pena. Um deles se foi, guardo do coração, o outro para minha sorte está logo ali, na lista telefônica.

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