sábado, 13 de fevereiro de 2021

No Rio sempre há o que se ouvir.


O Rio nunca está quieto. Há sempre o que se ouvir. Seja uma moto no meio da madrugada, o martelo de uma construção, a música alta na casa do vizinho.

As vezes a gente ouve tiro. Sim é verdade. Não há como negar que a cidade continua em guerra. Conflito que só os muito tolos ainda acreditam ser por conta de maconha e de pó.

Contudo a gente ouve de vez em quando um sabiá, um sagui ou uma maritaca. Daí você olha ao redor e vê ao longe uma montanha e é lembrado que essas terras dantes fora uma selva. E de uma forma um tanto quanto torpe, ela ainda é. 

Ouve-se também catraca de ônibus. Batida de garrafa em mesa de aço. Sirene de tudo que é tipo. Apito de guarda. Menino brincando, menino chorando. Carro do ovo. Britadeira. Burburinho de feira. Comemoração de gol de pelada. Comemoração de gol de futebol. Comemoração de todo tipo. Gente brigando, gente gozando (às vezes fica-se na dúvida). Rojão de balão. Estouro de doze por um. Compressor de oficina. Bomba d'água. Bomba de efeito moral. Bomba bomba mesmo. Falatório de festa. Caminhão de lixo. Furadeira. Cachorro de rua brigando, gato de rua transando (o que ensina muito sobre cães e gatos). Avião decolando. Helicóptero - é da Globo ou da polícia? - Campainha, buzina, telefone. Rádio AM, rádio gospel, Rádio Tupi, FM o Dia, Band News - eu prefiro a Tupi, todo domingo, Bola em Jogo, com Gilson Ricardo e Gerson Canhotinha de Ouro.

De tudo que se ouve,  o barulho mais frequente por aqui é: batuque. Batuque de samba e de funk. Tambor de sertanejo e zabumba forró, pois cá também é terra de migrantes. Atabaque de candomblé, cada vez mais raro. Pandeiro de igreja, esse cada vez mais frequente. 

Mas nesse carnaval de 2021 a cidade está estranhamente silenciosa. Acalme-se caro leitor, eu não vou contradizer o título da crônica. O silêncio do Rio é ruidoso. 

Ouço aqui da minha janela suburbana um tambor tristonho um tanto bêbado e solitário. Pelo descompasso ele toca envergonhado entre caixas de Brahma e telhas de zinco num terreiro escondido onde uma única moça  de vestido vermelho dança expatriada.  Uma festa de carnaval que dirão clandestina, julguem vocês que esse carma não é meu. 

Cá no meu canto eu queria que esse tambor triste, do domingo de carnaval mais triste, tocassae para algum santo bom e poderoso. E que ele ouvisse, e viesse nos livrar desta peste, salvando ao menos o carnaval do ano que vem. Porque isso aqui parceiro, está de dar pena.  



 Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional

 

8 comentários:

  1. Lapinha. Estas se superando. Muito bom. Abraços.

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  2. Carai Lapinhaaaa. Uma de cada vez, uma após outra, muito obrigado!

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  3. Tupi, todo domingo, Bola em Jogo, com Gilson Ricardo e Gerson Canhotinha de Ouro.
    Muito bom !!
    Lapinha vc é o cara !!😂😂😂😂👏👏

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  4. Muito bom camarada. Delicia de Crônica como de costume. Recado dado. Tomara que algum santo leia ou escute.

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