O menino deu uma das mãos ao pai e com a outra segurou a mão da prima. Então, cantaram a canção e giraram a ciranda. Num dado momento o menino percebeu que conhecia a música. E mais que isso, ele sabia os momentos de ir, e voltar e se agachar.
A percepção desse conhecimento lhe trouxe tanta felicidade que ele foi chamar a mãe, e tio, e a tia. Que demoraram muito a vir pois estavam extremamente assoberbados com seus afazeres de adulto. Enquanto esperava o menino estava aflito, e insistia num trabalho de Sísifo a ir e a vir, da casa para o quintal e voltando.
Puxava a saia da mãe – a mamãe tá numa ligação importante filho, depois a gente brinca. E importunava o tio – titio tá trabalhando agora eu não posso. Insistia com a tia – já falei que cozinha não é lugar de criança, espera no quintal que já vou. A prima começou até outra brincadeira. O pai observava curioso qual seria o desfecho daquela empreitada épica que o moleque abraçou como se fosse um cruzado, convicto do bem que fazia.
O sol já havia se retirado quando enfim o menino insistente consegui reunir todos da casa numa grande ciranda. E cantaram, e rodaram e dançaram sob o luar e a amoreira. E foram intensamente felizes. E em seus pensamentos questionaram o porquê de terem demorado tanto. Não encontraram respostas plausíveis e guardaram as dúvidas em seus corações fechados de gente adulta.
Porém, de todos que foram felizes naquela noite ninguém sequer sentiu uma felicidade comparável à do menino. Ele foi tomado por uma alegria plena, que quis chamar os vizinhos, e a rua, e o bairro. Imaginou a humanidade como uma grande cantiga de roda ainda a se organizar. E percebeu-se gente pela primeira vez na vida. E também pela primeira vez sentiu orgulho quando parou no centro da roda e viu o olhar de cada adulto e cada criança a cantar e dançar – sua primeira criação: uma ciranda. E acenou para o pai, que respondeu aplaudindo.
O menino dançou, cantou e girou na ciranda. E agachou na parte da música que diz – miau! E riu muito, até às pernas sucumbirem. E foi ao chão. E naquele início de noite, sob a amoreira e o luar o menino entendeu que a vida é boa, desde que haja ânimo para se dançar ciranda.
Coisas boas e desapercebidas da infância...e de acompanhar a criançada.
ResponderExcluirIsso não é uma crônica camarada... É uma poesia. Que coisa linda!!! Fantástico!!
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