quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Manifesto



Eu a conheci na adolescência. A gente começou um namorico despretensioso, coisa de escola. Aquele lance de se afirmar, se exibir para os amigos e tal. Como disse outro dia o Cortella “o adolescente é um sujeito grávido de si mesmo”.

Tivemos muitos encontros, é claro que nada sério, eu era ainda um cara muito jovem. Todavia nossos encontros eram intensos e de certa forma, afoitos. Ser precoce na juventude é o ônus de todos aqueles hormônios. Eu curtia e tal, mas logo ia beber de outras fontes. A maioria delas nada confiáveis.

Lembro-me bem daquele dia em São Paulo. Tinha que ser em São Paulo, nada mais urbano, talvez Curitiba. Ambiente cinza, garoa fina, estampa de poá, vento cortando fino pela tangente. Ela revelou-se misteriosa, enigmática, dissimulada. Não era a primeira vez, mas foi como se fosse.

Tive então a experiência mais arrebatadora da minha vida. Ela muito mais madura, evoluída, experimentada. Estava interessada em mim há muito tempo. Modéstia a parte, o Lapinha aqui tem seus encantos. Mas só quando deixei as coisas de menino comecei a entender os sinais.

Ela me virou do avesso, refundou os meus conceitos. Enlouqueceu-me primeiro, para me resgatar no momento seguinte. Mudou meu senso estético, ético, político, filosófico.  Bagunçou os meus pontos cardiais e deu-me novas referencias. Enfim reinventou a minha vida.

E eis me aqui, incompleto, desconfiado, inacabado e apaixonado. Tudo graças a ela.  A arte desfaz de mim o que eu sou.

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