Hoje no Hemisfério Norte há de brilhar nos céus a primeira lua cheia da primavera. Será a primeira noite luminosa após as agruras de um inverno sombrio. Há milênios os povos escolheram este marco como uma data de celebração.
Atente-se ao fato de que, na grande maioria das civilizações onde esta tradição surgiu, neste momento os campos ainda estavam inférteis, assolados pelo gelo. As dispensas das casas primitivas certamente estavam vazias e muitos provavelmente estavam doentes ou haviam perdido pessoas queridas. O que seguiria esta data seria um longo período de trabalho duro a recuperar o solo, a plantar e a esperar com fé no futuro. Contudo celebravam, pois sabiam que daquele momento em diante o clima tenderia a melhorar. E a natureza que dantes fora rude e cruel em breve revelaria campos verdes e fartos. E o ciclo se reiniciaria.
Essa é a origem do que hoje nós conhecemos como páscoa. Na tradição judaica é o momento histórico onde eles livraram-se da opressão. Daquele momento em diante ainda penariam décadas como nômades pelo deserto, num êxodo que custaria a vida de absolutamente todos, pois a história diz que somente os filhos dos que deixaram o Egito alcançaram a Terra Prometida. E eles celebram o triunfo de um tempo futuro. De uma geração futura.
Para os cristãos é o momento em que um homem triunfa sobre a morte. Porque Jesus apesar de santo e divino era sobretudo homem. E padeceu diante da barbárie, da perversão, da sede cega pelo poder. Padeceu diante dos adoradores da tortura e de torturadores. Contudo triunfou, ressurreto ao terceiro dia. Daquela data em diante os cristãos seguiriam para séculos de militância clandestina. E muitos deles ainda cairiam mártires de uma fé pautada no amor, no altruísmo e no perdão. E eles celebram, pois acreditam no poder da mensagem.
E em diversas outras tradições muito mais antigas que as atuais religiões o significado é o mesmo, o triunfo da luz sobre as trevas. Culturas que se perderam nas disputas pelas narrativas históricas, mas que sobrevivem nos sincretismos, nas histórias mal contadas de coelhos e ovos. A mensagem de nossos ancestrais é clara. Nesta noite podemos estar vivendo o pior de nossos momentos, mas é Páscoa, e adiante está a primavera e os campos verdes do verão. Não importa o quão rigoroso tenha sido o inverno e quantos de nós tenham caído ou ainda estão por cair, o futuro é luminoso. Foi para os antigos há de ser para nós.
Contudo essa mensagem não pode ser confundida como uma ode à passividade. O inverno passou e o gelo há de se dissipar, porém os campos não vão arar-se por si próprios. O deserto não se moverá sob nossos pés, tampouco o amor irá proclamar-se pelos ventos. Há uma grande obra a ser erguida por aqueles dispostos a aprender com os erros, os próprios e os dos outros. Devemos arar a terra ouvindo aos que de terra entendem. Aprendendo com os sábios que colheram nos verões passados e refutando os loucos que se empenham no ofício da morte.
Esta Páscoa certamente não marcará o fim de nosso sofrimento, mas pode significar nossa virada de rumo. O verão é logo ali. E nas festas da colheita estaremos celebrando com o que há de melhor no Brasil, comendo milho numa feira enfeitada de bandeirolas, em Campina Grande ou em Caruaru. Oxalá.
Que venha logo a nossa primavera com vacina para todos. A páscoa fala da ressurreição e vida. Que a vida continue vibrante .
ResponderExcluirMuito boa, me vez refletir sobre vários aspectos.Inclusive que o logo ali pode ser o verão de 2022.
ResponderExcluirIsso ai lapita. Ojala saibamos aproveitar bem esse periodo diferente.
ResponderExcluirEsse cara é muito multifuncional! Parabéns, Mister Laps!
ResponderExcluirFeliz Pazcoa!
ResponderExcluirEssa eu li atrasado...
ResponderExcluirQue assim seja! Forças para todos nós!