Terminei mais um livro do Jorge Amado. A segunda morte de Berro D'Água me inspirou a ouvir Cayme. Demorei mas achei a playlist em meus alfarrábios. Antes de ouvir fui ao hortifrúti do bairro.
Encontrei meu vizinho sorridente e sua esposa sempre acelerada. Ela, que auditava a gôndola de cebolas por cima de seus óculos moderninhos, quase não me notou. Ele a cutucou, ela me acenou constrangida. Lembrei-me de um almoço que eles ofereceram num feriado há umas semanas. O frango com quiabo estava perfeito, me curou de uma tremenda ressaca. Daí, a inspiração para o almoço.
Mal cheguei com as compras dei conta de que havia me esquecido de passar na farmácia. Saí novamente, no caminho recebi um telefonema do meu pai cobrando-me uma visita. Agendei para o outro fim de semana. A modernidade nos traz muitas demandas e acaba por nos afastar dos nossos.
Um pouco menos de meia hora eu estava de volta. Enfim pude cozinhar e ouvir Cayme. Suas canções praieiras me levaram do Rio à Salvador, à Itabuna e Ilhéus. Lamentei não ter dendê, se tivesse faria um xinxim... Ah se faria!
Mas o cardápio até que não foi mal, franguinho com quiabo, creme de milho, arroz, feijão, couve com bastante alho... E pra sobremesa jabuticabas. Minha esposa pôs a mesa. Troquei a playlist. Caetano e Gil me trouxeram de volta, da Bahia ao Rio. Recebi elogios.
À tarde vimos fotos de viagens antigas ao som de Bossa n'Stones e Zeca Baleiro. As cinco começou o futebol. Minha esposa dormiu no meu colo. Vibrei baixinho quando saiu o gol, os meus vizinhos não, ela acordou. Decidiu fazer um bolo.
Vi um documentário sobre o João Nogueira. Tive que aturar ela dizendo que "o filho dele tem a mesma voz com a vantagem de ser lindo". Tomamos café com bolo. Café expresso feito numa máquina que eu ganhei numa rifa por cinco reais – isso sim foi um bom investimento! Abri o Facebook, cliquei num link de uma entrevista dada à Folha pela nova primeira dama paulista. Arrependi-me de ter aberto o Facebook.
Liguei a TV. Assisti à palestra do professor Karnal e do professor Clóvis sobre felicidade. Ver uma plateia tão grande pra ouvir filosofia me surpreendeu. Desliguei a TV. Minha mulher tentou me explicar Spinoza. Um monte de perguntas sem respostas. Ela adora me provocar. Dormiu, ela. Eu tive insônia e escrevi essa crônica.
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Cara que delícia!!! Você já disparado o melhor cronista que conheço.
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