segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Cultura brasileira

Acordei antes das sete, embora fosse domingo. Há muito contraí de minha esposa este costume crônico. Tomei café na varanda para ouvir os sabiás. Comi queijo da canastra.

Terminei mais um livro do Jorge Amado. A segunda morte de Berro D'Água me inspirou a ouvir Cayme. Demorei mas achei a playlist em meus alfarrábios. Antes de ouvir fui ao hortifrúti do bairro.

Encontrei meu vizinho sorridente e sua esposa sempre acelerada. Ela, que auditava a gôndola de cebolas por cima de seus óculos moderninhos, quase não me notou. Ele a cutucou, ela me acenou constrangida. Lembrei-me de um  almoço que eles ofereceram num feriado há umas semanas. O frango com quiabo estava perfeito, me curou de uma tremenda ressaca. Daí, a inspiração para o almoço.

Mal cheguei com as compras  dei conta de que havia me esquecido de passar na farmácia. Saí novamente, no caminho recebi um telefonema do meu pai cobrando-me uma visita. Agendei para o outro fim de semana. A modernidade nos traz muitas demandas e acaba por nos afastar dos nossos.

Um pouco menos de meia hora eu estava de volta.  Enfim pude cozinhar e ouvir Cayme. Suas canções praieiras me levaram do Rio à Salvador, à Itabuna e Ilhéus. Lamentei não ter dendê, se tivesse faria um xinxim... Ah se faria!

Mas o cardápio até que não foi mal, franguinho com quiabo, creme de milho, arroz, feijão, couve com bastante alho... E pra sobremesa jabuticabas. Minha esposa pôs a mesa. Troquei a playlist. Caetano e Gil me trouxeram de volta, da Bahia ao Rio. Recebi elogios.

À tarde vimos fotos de viagens antigas ao som de Bossa n'Stones e Zeca Baleiro. As cinco começou o futebol. Minha esposa dormiu no meu colo. Vibrei baixinho quando saiu o gol, os meus vizinhos não, ela acordou. Decidiu fazer um bolo.

Vi um documentário sobre o João Nogueira. Tive que aturar ela dizendo que "o filho dele tem a mesma voz com a vantagem de ser lindo". Tomamos café com bolo. Café expresso feito numa máquina que eu ganhei numa rifa por cinco reais – isso sim foi um bom investimento! Abri o Facebook, cliquei num link de uma entrevista dada à Folha pela nova primeira dama paulista. Arrependi-me de ter aberto o Facebook.

Liguei a TV. Assisti à palestra do professor Karnal e do professor Clóvis sobre felicidade. Ver uma plateia tão grande pra ouvir filosofia me surpreendeu. Desliguei a TV. Minha mulher tentou me explicar Spinoza. Um monte de perguntas sem respostas. Ela adora me provocar. Dormiu, ela. Eu tive insônia e escrevi essa crônica.


 Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.

Um comentário:

Meu primo Célio

E tem esse meu primo Célio, que na intimidade a gente chama de Celinho, de alguma forma ele sempre foi vanguarda. No início da d...